03/05/2012

Coisas que eu gostaria que explicassem

A começar pelo governo. E esqueçam a Assunçãozinha que a sua cara bolachuda não me convence. O governo que depressa anuncia que anunciará metas, objetivos, estratégias, relatórios, propostas e, quiçá ainda esta legislatura, uma decisão sobre a matéria que, assim só por acaso, passou-lhe completamente ao lado e há que dar tempo para contratar economistas doutores graduados em diversas coisas nenhumas para lhes explicar exactamente qual é a matéria em causa.

Gostava ainda que os deputados também nos explicassem estas coisas e não fossem tão politizados. Do discurso inflacionado e reacionário de esquerda que acredita que se trata de terrorismo económico cujo objectivo é tirar o povo da rua e enganá-lo com alvíssaras diversas, passando aos salta-casaquinhas que ora acham que está tudo bem, ora acham que a culpa é do governo, terminando nos que acreditam piamente que o governo tudo fará, aliás já está a fazer, em bom rigor até já fez, para encontrar os responsáveis e anunciar um pacote legislativo sobre a matéria, fica o cidadão completamente baralhado ou, não menos frequente, adere sem apelo nem agravo a uma das posições extremadas dos seus partidos.

Também costumo sonhar com uma espécie de jornalismo informativo e pedagógico que não se limita a anunciar os comunicados de imprensa das entidades públicas e privadas, mas procura conhecer os factos que se encontram detrás desses comunicados.

Gostaria assim de viver num mundo ideal onde cada um por si só e todos nós em uníssono procurássemos estar informados acerca das matérias que falamos, trabalhamos ou noticiamos. Mas isso não acontece e eu, não sendo boa-samaritana diariamente, mas apenas a cada duas semanas, tendo visto/ouvido algumas barbaridades quanto ao assunto dos descontos no pingo doce e a possível prática de dumping, decidi partilhar convosco aquilo que sei. então:

O que é o dumping?
Estrangeirismo usado na gíria dos economistas e analistas de mercado. Tirem-lhes a expressão e ficam sem saber como dizer aquilo. Significa a venda com prejuízo.

É proibida a venda com prejuízo?
A nossa legislação proíbe a venda de um bem a um agente económico ou a um consumidor por um preço inferior ao seu preço de compra efectivo.

O que é o preço de compra efectivo?
O preço de compra efectivo (conceito que muita dor de cabeça dá a economistas, gestores e afins) é o preço constante da factura de compra, após a dedução dos descontos directamente relacionados com a transacção em causa que se encontrem identificados na própria factura.

O desconto do Pingo Doce não é comparável com os saldos?
A proibição de venda de bens com prejuízo não é aplicável à venda de:

-        Bens perecíveis, a partir do momento em que se encontrem ameaçados de deteriorização rápida; [é muito comum nas superfícies comerciais hoje em dia fazerem promoções para acabarem com o stock de um produto cujo prazo de validade está a terminar]

-        Bens cujo valor comercial esteja afectado, quer por ter decorrido a situação que determinou a sua necessidade, quer por redução das suas possibilidades de utilização, quer por superveniência de importante inovação técnica [bikinis no inverno, mesas de jardim depois do verão, etc];

-        Bens cujo reaprovisionamento se efectue a preço inferior, sendo então o preço efectivo de compra substituído pelo preço resultante da nova factura de compra;

-        Bens cujo preço se encontre alinhado pelo preço praticado para os mesmos bens por um outro agente económico do mesmo ramo de actividade que se encontre temporal e espacialmente em situação de concorrência efectiva com o autor do alinhamento [há quem lhe chame de espionagem comercial e há quem ande a correr as prateleiras de supermercado à procura de preços];

-        Bens vendidos em saldo ou liquidação [txarammmm].

Os funcionários do Pingo Doce estão sempre sorridentes?
Falso. Não há qualquer evidência de ser humanamente possível estar sempre sorridente quando se está a trabalhar.

Nota 1:
Se A comprou a B por 50 e vende a C por 100 não significa que a diferença (50) seja lucro. A estrutura de custos de um bem não se resume ao seu preço de compra efectivo, existindo muitos outros custos que devem ser contabilizados, tais como gastos com pessoal, com a distribuição dos bens e a sua manutenção, custos das estruturas de venda (lojas), custos de marketing, etc.

Nota 2:
Por vezes, em circunstâncias perfeitamente normais, os operadores económicos têm comportamentos de marketing bastante agressivos. Nem sempre tais comportamentos constituem a prática de venda com prejuízo, mas em boa parte das situações siginifica uma de duas hipóteses (e, infelizmente, não muito raramente as duas em simultâneo):

        - Mark up (outro estrangeirismo giro) é a fixação inflacionada de um preço como forma de lhe aplicar um desconto comercial maior. É muito comum nas promoções do continente, por exemplo, quando um produto que geralmente é vendido a 5 passa a 10 e depois é-lhe aplicado um desconto de 25% ou 50%. Esta estratégia comercial adoptada por esta cadeia de supermercados é incrivelmente eficaz. O povinho (myself included) compra, acreditando que está a fazer um bom negócio a comprar aquele bem com aquele enorme desconto e depois o desconto não é aplicado na factura, mas sim em talão para ser novamente gasto na mesma superfície comercial. Eles nunca ficam a perder.~

        - Estratégia comercial. Um enorme desconto nos lacticínios pode ter como objectivo levar o povinho àquela superfície comercial num determinado período em que se realiza uma feira, por exemplo, de vinhos e enchidos em stock excedente que necessita ser escoado.



…e muito mais havia para dizer, mas agora não temos tempo. Há que trabalhar em prol deste país, dos contribuintes e a bem da NAÇÃO!

2 comentários:

  1. Obrigada!! já guardei isto nos favoritos para ler depois com mais calma.
    também encontrei isto:http://pimentanegra.blogspot.pt/2005/02/dumping-social-e-dumping-ambiental.html

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  2. não é nem pretende ser um estudo muito aprofundado até porque não sou dessa área, mas acho que dá para se ter uma ideia do que se passa.

    :-)

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