Gostava ainda que os deputados
também nos explicassem estas coisas e não fossem tão politizados. Do discurso inflacionado
e reacionário de esquerda que acredita que se trata de terrorismo económico
cujo objectivo é tirar o povo da rua e enganá-lo com alvíssaras diversas,
passando aos salta-casaquinhas que ora acham que está tudo bem, ora acham que a
culpa é do governo, terminando nos que acreditam piamente que o governo tudo fará,
aliás já está a fazer, em bom rigor até já fez, para encontrar os responsáveis
e anunciar um pacote legislativo sobre a matéria, fica o cidadão completamente
baralhado ou, não menos frequente, adere sem apelo nem agravo a uma das
posições extremadas dos seus partidos.
Também costumo sonhar com uma
espécie de jornalismo informativo e pedagógico que não se limita a anunciar os
comunicados de imprensa das entidades públicas e privadas, mas procura conhecer
os factos que se encontram detrás desses comunicados.
Gostaria assim de viver num mundo
ideal onde cada um por si só e todos nós em uníssono procurássemos estar
informados acerca das matérias que falamos, trabalhamos ou noticiamos. Mas isso
não acontece e eu, não sendo boa-samaritana diariamente, mas apenas a cada duas
semanas, tendo visto/ouvido algumas barbaridades quanto ao assunto dos descontos
no pingo doce e a possível prática de dumping, decidi partilhar convosco aquilo
que sei. então:
O que é o dumping?
Estrangeirismo usado na gíria dos
economistas e analistas de mercado. Tirem-lhes a expressão e ficam sem saber
como dizer aquilo. Significa a venda com prejuízo.
É proibida a venda com prejuízo?
A nossa legislação proíbe a venda
de um bem a um agente económico ou a um consumidor por um preço inferior ao seu
preço de compra efectivo.
O que é o preço de compra efectivo?
O preço de compra efectivo
(conceito que muita dor de cabeça dá a economistas, gestores e afins) é o preço
constante da factura de compra, após a dedução dos descontos directamente
relacionados com a transacção em causa que se encontrem identificados na
própria factura.
O desconto do Pingo Doce não é comparável com os saldos?
A proibição de venda de bens com
prejuízo não é aplicável à venda de:
-
Bens perecíveis, a partir do momento em que se
encontrem ameaçados de deteriorização rápida; [é muito comum
nas superfícies comerciais hoje em dia fazerem promoções para acabarem com o
stock de um produto cujo prazo de validade está a terminar]
-
Bens cujo valor comercial esteja afectado, quer por
ter decorrido a situação que determinou a sua necessidade, quer por redução das
suas possibilidades de utilização, quer por superveniência de importante
inovação técnica [bikinis no inverno, mesas de jardim depois do verão, etc];
-
Bens cujo reaprovisionamento se efectue a preço
inferior, sendo então o preço efectivo de compra substituído pelo preço resultante
da nova factura de compra;
-
Bens cujo preço se encontre alinhado pelo preço praticado
para os mesmos bens por um outro agente económico do mesmo ramo de actividade que
se encontre temporal e espacialmente em situação de concorrência efectiva com o
autor do alinhamento [há quem lhe chame de espionagem comercial e há quem ande
a correr as prateleiras de supermercado à procura de preços];
-
Bens vendidos em saldo ou liquidação [txarammmm].
Os funcionários do Pingo Doce estão sempre sorridentes?
Falso. Não há qualquer evidência de ser humanamente possível estar sempre sorridente quando se está a trabalhar.
Nota 1:
Se A comprou a B por 50 e vende a C por
100 não significa que a diferença (50) seja lucro. A estrutura de custos de um
bem não se resume ao seu preço de compra efectivo, existindo muitos outros
custos que devem ser contabilizados, tais como gastos com pessoal, com a
distribuição dos bens e a sua manutenção, custos das estruturas de venda (lojas),
custos de marketing, etc.
Nota 2:
Por vezes, em
circunstâncias perfeitamente normais, os operadores económicos têm
comportamentos de marketing bastante agressivos. Nem sempre tais comportamentos
constituem a prática de venda com prejuízo, mas em boa parte das situações
siginifica uma de duas hipóteses (e, infelizmente, não muito raramente as duas
em simultâneo):
- Mark up (outro estrangeirismo giro) é
a fixação inflacionada de um preço como forma de lhe aplicar um desconto
comercial maior. É muito comum nas promoções do continente, por exemplo, quando
um produto que geralmente é vendido a 5 passa a 10 e depois é-lhe aplicado um
desconto de 25% ou 50%. Esta estratégia comercial adoptada por esta cadeia de supermercados
é incrivelmente eficaz. O povinho (myself included) compra, acreditando que
está a fazer um bom negócio a comprar aquele bem com aquele enorme desconto e
depois o desconto não é aplicado na factura, mas sim em talão para ser
novamente gasto na mesma superfície comercial. Eles nunca ficam a perder.~
- Estratégia comercial. Um enorme
desconto nos lacticínios pode ter como objectivo levar o povinho àquela
superfície comercial num determinado período em que se realiza uma feira, por
exemplo, de vinhos e enchidos em stock excedente que necessita ser escoado.
…e muito mais havia para dizer,
mas agora não temos tempo. Há que trabalhar em prol deste país, dos
contribuintes e a bem da NAÇÃO!
Obrigada!! já guardei isto nos favoritos para ler depois com mais calma.
ResponderEliminartambém encontrei isto:http://pimentanegra.blogspot.pt/2005/02/dumping-social-e-dumping-ambiental.html
não é nem pretende ser um estudo muito aprofundado até porque não sou dessa área, mas acho que dá para se ter uma ideia do que se passa.
ResponderEliminar:-)